1º de Maio: o trabalho segue enforcado na corda do capital
1º de Maio: o trabalho segue enforcado na corda do capital
Se Mikhail Bakunin caminhasse hoje por entre os arranha-céus das metrópoles, entre aplicativos que exploram trabalhadores com sorrisos digitais e jornadas de 12 horas disfarçadas de “liberdade empreendedora”, ele não teria dúvidas: o chicote mudou de forma, mas a violência é a mesma.
O 1º de Maio deveria ser um dia de memória e revolta. Mas foi domesticado. Transformado em feriado decorativo, recheado de discursos ocos e campanhas publicitárias que falam de “valorização do colaborador”, enquanto o colaborador não tem tempo nem pra viver.
Bakunin nos alertava: toda autoridade corrompe, e o poder, ao se concentrar, transforma o povo em engrenagem de um mecanismo que o próprio povo jamais controla. Hoje, essa engrenagem é mais sutil: está nos algoritmos que decidem quem come e quem não come; nas metas inatingíveis, nas reuniões infindáveis, na promessa vazia de que “se você se esforçar, um dia chega lá”.
Mas chegar onde? No topo de uma pirâmide que só se sustenta esmagando os que estão na base?
O trabalhador moderno não é livre. É apenas um servo plugado no Wi-Fi.
E ainda chamam isso de progresso.
Bakunin defendia uma revolução que nascesse de baixo, dos oprimidos, sem esperar migalhas dos partidos, dos parlamentos ou das instituições. Hoje, vemos cada vez mais jovens exaustos, pais e mães exauridos, todos engolidos por uma lógica que exige tudo, e devolve quase nada.
O Estado, sempre aliado do capital, não serve ao povo: serve à ordem. Mas qual ordem? A que permite a fome em um planeta que produz alimento suficiente para todos? A que transforma saúde e moradia em privilégio? A que pune a pobreza e recompensa a fraude com bônus milionários?
O 1º de Maio é o lembrete: ou a classe trabalhadora toma consciência do seu poder real, ou continuará sendo gado produtivo, domesticado por promessas e dopado por distrações.
Bakunin via no povo a centelha criadora da verdadeira liberdade. Mas não qualquer povo, e sim aquele que se organiza, que se recusa a obedecer, que não pede permissão para viver com dignidade.
Hoje, prestar homenagem ao Dia do Trabalhador não é postar um card bonitinho no Instagram com a frase “gratidão a todos que fazem o mundo girar”.
É olhar nos olhos da exploração e dizer: acabou.
Acabou a submissão travestida de oportunidade.
Acabou o medo de desobedecer.
Acabou a crença de que um sistema baseado na desigualdade pode ser reformado.
O mundo que queremos não será dado, será arrancado com as mãos sujas de luta e o coração limpo de servidão.
Nesse 1º de Maio, que Bakunin nos inspire, não a celebrar, mas a construir o dia em que não haverá mais patrões nem servos. Apenas seres humanos livres, cooperando, criando e vivendo com dignidade.
Até que o último grilhão se quebre,
o 1º de Maio será sempre um ato de guerra.